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sabato 15 gennaio 2011

Bob Lester



Alexandre Petillo e Luara Leimig - O Estadao de S.Paulo
Ele ainda tem estilo. Não aceita ser fotografado sem seu boné, sem se ajeitar bem no sofá. Não precisa de orientação para fazer pose. Sabe cantar, sapatear, entreter. Mas a barba está malfeita, a roupa velha, o que faz com que ele seja facilmente confundido com um morador de rua. Trata-se de Bob Lester, ex-integrante do Bando da Lua, grupo que acompanhou Carmen Miranda nos Estados Unidos, dançarino que se apresentou ao lado de lendas como Oscarito e Grande Otelo, que transitou pelo Cassino da Urca, o Quitandinha, o Copacabana Palace, na década de 1930. Ainda tem estilo, mas hoje vive como um mendigo. Ele pede ajuda, mas não dinheiro ou comida. Quer um violão.


A reportagem do Estado encontra Lester em uma velha pousada no centro de Taubaté, a 96 km de São Paulo. Ele só está ali porque uma alma caridosa pagou algumas diárias no local. A alimentação do dia consiste no café da manhã oferecido pelo lugar - dali para frente, as refeições são incertas. Tão incerto quanto o destino que vai tomar quando as diárias pagas acabarem. "Não tenho dinheiro para ir até São Paulo, nem voltar para o Rio. Muito menos voltar para minha casa, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul", conta. Um estilo de vida pouco recomendável para um senhor de 90 e poucos anos - sua idade também é incerta, ele garante ter nascido em 1916, mas existem livros, reportagens e sites que apontam 1912, 1913 ou 1915.


O fato é que esse artista nasceu Edgar de Almeida Negrão de Lima em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, e apareceu para o mundo do entretenimento participando de programas em rádios cariocas. Ganhou destaque vencendo um concurso no temido A Hora do Gongo, de Ari Barroso. Além de cantar, tocar violão e castanholas, ele era um bom sapateador, credencial para participar de shows com grandes vedetes. Entrou na segunda formação do Bando da Lua e se mandou para os Estados Unidos na esteira de Carmen Miranda. Ficou dez anos por lá, chegaria até a trabalhar como dançarino em espetáculo de Frank Sinatra e Doris Day. Na volta para o Brasil, se manteve ainda em alta cantando com Os Trigêmeos Vocalistas, Gregório Barrios e na orquestra de Xavier Cugat. Então, os trabalhos começaram a rarear e o máximo que conseguia era cantar em churrascarias. Mas o pior ainda estaria por vir. No começo da década de 1970 (a data não é precisa), perde a mulher, duas filhas e a mãe em um acidente automobilístico no Rio Grande do Sul. Lester, que tentava encontrar algum espaço em cassinos uruguaios, só conseguiu voltar a tempo do enterro. O trauma levou-o para um hospital psiquiátrico em Porto Alegre. Daí para frente, sua vida é errante. Em 2008, tudo o que possui é um álbum de fotos e recortes.


Antes de chegar a Taubaté, Lester estava em Vitória, no Espírito Santo. Lá, teve seu violão roubado, depois de se apresentar em lugares públicos e ganhar R$ 400. Agora, no interior de São Paulo, não tem dinheiro nem o seu instrumento de trabalho. "Eles me levaram um violão, que eu tinha mandado trazer da Suíça. Também perdi um teclado caríssimo", conta. O tom de exagero na qualificação dos instrumentos descritos em sua fala explica muito sobre o que é a sua vida nos dias de hoje. Em sua mente, Lester vive e sobrevive como se ainda estivesse nos movimentados anos 1930.


Ele pensa que é uma estrela. E até é, pelo talento que ainda carrega e as experiências que teve (é impressionante sua vitalidade dançando, com 90 anos. Dá para ver no YouTube. Procure). Mas na sua cabeça, vive como um ídolo popular, coisa que deixou de ser, se é que realmente foi, há seis décadas. "Você acredita que ontem eu fui numa rádio e lá me disseram que eu era velho, que meu tempo passou", se espanta o artista formado na Rádio Caruti.


Conta de apresentações que fez em praças e esquinas com o mesmo entusiasmo de um palco no Copacabana Palace. Mesmo rodando e dormindo de favor em ?pulgueiros?, acredita estar sempre hospedado em um grande hotel. Ele vive em uma eterna turnê. No final dos anos 1990, foi acolhido no Retiro dos Artistas, mas fugiu. "Lá tinha um cachorro muito bravo, ele me atacou. Aí resolvi fugir, porque também não gosto de ficar parado. Se eu parar de tocar, vou morrer", atesta.


Por realmente acreditar ter passado sete décadas como uma grande estrela do show biz mundial, Bob Lester confunde suas histórias com fantasias. Diz ter sido amigo de Elvis, Bob Dylan, de ter descoberto Elis Regina ainda menina nos pampas. Garante ser amigo de fé e irmão camarada de Roberto Carlos. "Vou ligar para ele comprar o Estadão pra mim, pra guardar essa matéria. O Roberto compra os jornais todos, ele lê tudo. As pessoas falam que ele é muquirana, mas ele é que paga o aluguel do quarto que eu moro no Rio. Dia desses eu me apertei e ele me mandou R$ 400", jura, garantindo ter acesso ilimitado ao Rei. Lester põe sua decadência na conta da boemia. Diz ter chegado ao Brasil carregando R$ 350 mil, que gastou com mulheres. "Não posso ver um rabo de saia que eu me enrosco. Até hoje, se deixar, eu me envolvo rapidinho", conta.


Mas ele não faz isso por mal. Faz por amor a sua arte. É tão apaixonado por ter o privilégio de poder mostrar o seu talento para quem quiser ver, que meia dúzia olhando-o sapatear numa praça lhe dá a mesma satisfação de subir num palco. "Parece que eu estou voando, flutuando, quando faço meus shows. É uma beleza", diz, com total convicção. Em 2004, foi feito um filme chamado Bob Lester, que conta a sua vida, com direção de Hanna Godoy e Mariana Silveira. Hoje em dia, longe de seus tempos de glória, ele enfrenta a situação de rua em busca de um palco para saciar sua vontade de cantar e dançar para alguém ver. Além disso, no começo da década, ele teve de se tratar de um câncer na bexiga.


Mentalmente, uma estrela. Socialmente, um mendigo. A vida que virou um filme é a de pedinte. Bob Lester precisa pedir para sobreviver. Pedir atenção nas cidades por onde passa ("quase ninguém quer falar comigo"). Pedir favores para sobreviver. Pedir para que o ouçam, principalmente. Só que para isso, necessita de um violão para chamar de seu - em Taubaté, conseguiu um somente emprestado, para tocar na inauguração de um centro cultural e tentar ganhar um dinheirinho. Quem quiser ajudá-lo, ligue para (21) 9308-3459. Ele quer ajuda, mas não esmola. Sua fome é por manter-se sob os holofotes. Ainda que a luz venha de um poste. A velha história do artista perambulando por onde o público estiver.




http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20081001/not_imp251291,0.php


http://contigo.abril.com.br/noticias/bob-lester-gente-historias-553607

http://www.revistaogrito.com/page/blog/2010/10/27/filme-resgata-historia-esquecida-de-bob-lester

http://avidadeboblester.zip.net

http://extra.globo.com/noticias/rio/bob-lester-aos-97-anos-artista-ganha-vida-se-apresentando-na-rua-376505.html













2 commenti:

  1. Obrigado a este blog por postar sobre a carreira de Bob Lester que, para mim, é o maior fenômeno artístico que aconteceu no Brasil.
    Bob é simplesmente fantástico. Canta em vários idiomas, em vários estilos. Com a mesma facilidade que canta um blues, canta também uma marchinha de carnaval ou um samba. Acho que o Bob Lester, com seus 98 anos, deveria ganhar o título de Patrimônio Universal, pois é um exemplo para toda a humanidade.

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  2. Fantástico, lúcido e cheio de vigor *-*

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