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venerdì 2 luglio 2010

Cora Coralina(1889-1985)


Cora Coralina(1889-1985)
Notas Biográficas:

Cora Coralina ( Ana Lins do Guimarães Peixoto Bretas ) nasceu na cidade de Goiás, em 20 de agosto de 1889 e faleceu em Goiânia em 10 de abril de 1985. Filha de Jacinta Luíza do Couto Brandão Peixoto e do Desembargador Francisco de Paula Lins do Guimarães. Casou-se com Cantídio Tolentino de Figueiredo Bretas. Teve quatro filhos, 15 netos e 19 bisnetos. Iniciou sua carreira literária aos 14 anos, publicando seu primeiro Conto "Tragédia na Roça" , em 1910. Saiu de Goiás em 1911, indo morar no interior de São Paulo. Viveu fora de Goiás durante 45 anos. Voltou para Goiás em 1954, indo morar na Casa Velha da Ponte. Iniciou outra atividade: a de doceira, que vai desenvolver por mais de 20 anos.

Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, poetisa de algumas gerações goianas, patrimônio de todas, cada vez mais se converte na genuína expressão de beleza poética que Goiás oferta a toda a família brasilileira. Cora Coralina, goiana, feiticeira do verso, singela e pura em seus cantares, flor do chão, nascida da terra, rescendendo ao húmus fecundo que faz nascer o milharal; sempe nova como nova é a vida que lhe crepita no cansado corpo, abrigo passageiro do espírito de ‘aninha" , há tanto nascida e há tanto e sempre renascida em cada verso e em cada poema que lhe brotam do interior. Aninha rica de lembranças de gerações vetustas, rica de estórias tantas vezes recontadas pelos ancestrais. Ana-Cora, Doutora "Honoris Causa" pela Universidade Federal de Goiás, doutora feita pela vida, pelo estudo incessante de tudo quanto aconteceu em seu derredor. Doutora que apenas cursou os anos da escola primária, mas que jamais deixou de apreender e assimilar conhecimento, de gerar, no verso, o fruto nobre que traz a lume sempre novos conhecimentos nem sempre na fala fria do racional, mas, invariavelmente, no verso prenhe de emoções e de verdades colhidas no processo de fecundação direta entre a emoção do artista e a mais profunda realidade das coisas, dos fatos e das pessoas. Cora Coralina, doutora dos becos da vida, das classes da experiência cotidiana, aprendeu de tudo quanto vivenciou as lições mas entranhadas no âmago da natureza. ( Mária do Rosário Cassimiro – in CORA, DOUTORA FEITA PELA VIDA )

Foi membro efetivo das seguintes entidades culturais:

Academia Goiana de Letras
Academia Feminina de Letras e Artes de Goiás
Gabinete Literário Goiano
União Brasileira de Escritores
Academia Brasiliense de Letras

Em 1979, recebe uma carta de Carlos Drummond de Andrade , a qual a lança definitivamente ao Brasil como uma grande poeta. (Durante muitos anos, esse mesmo grande poeta homenageou Cora em diversas cartas e publicações. Viveu 96 anos, sendo 78 dedicados à escrita. Inúmeras foram as participações, condecorações, homenagens e prêmios recebidos. Frequentou somente o curso primário e recebeu o título "Honoris Causa" pela Universidade Federal de Goiás de DOUTORA FEITA PELA VIDA.

CARTA DE DRUMMOND A CORA CORALINA
Rio de Janeiro, 7 de outubro de 1983.
Minha querida amiga Cora Coralina: Seu "VINTÉM DE COBRE" é, para mim, moeda de ouro, e de um ouro que não sofre as oscilações do mercado. É poesia das mais diretas e comunicativas que já tenho lido e amado. Que riqueza de experiência humana, que sensibilidade especial e que lirismo identificado com as fontes da vida! Aninha hoje não nos pertence. É patrimônio de nós todos, que nascemos no Brasil e amamos a poesia ( ...). Não lhe escrevi antes, agradecendo a dádiva, porque andei malacafento e me submeti a uma cirurgia. Mas agora, já recuperado, estou em condições de dizer, com alegria justa: Obrigado , minha amiga! Obrigado, também, pelas lindas, tocantes palavras que escreveu para mim e que guardarei na memória do coração.
O beijo e o carinho do seu
Drummond.

Extarído de Textos e Contextos

Cora Coralina era o pseudônimo de Ana Lins de Guimarães Peixoto Bretas. Nasceu no estado de Goiás em 1889 e morreu em 1985. Cora Coralina era chamada Aninha da Ponte da Lapa e trabalhou como doceira, na cozinha da Casa da Ponte, produzindo seus versos ao pé do fogo. Publicou seu primeiro livro aos 75 anos de idade e continuou lúcida até quase os 96 anos, quando morreu em 1985. Ficou famosa principalmente quando Drummond confessou que os poemas de Cora o tocavam profundamente. Sua obra se caracteriza pela espontaneidade e pelo retrato que traça do povo do seu Estado, seus costumes e seus sentimentos. Utilizando-se de ricos jogos de palavras, comenta a própria vida (ou vidas) e sua terra natal, abordando temas profundos, mas com simplicidade


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BIOGRAFIA

Mãe
Renovadora e reveladora do mundo
A humanidade se renova no teu ventre.
Cria teus filhos,
não os entregues à creche.
Creche é fria, impessoal.
Nunca será um lar
para teu filho.
Ele, pequenino, precisa de ti.
Não o desligues da tua força maternal.
Que pretendes, mulher?
Independência, igualdade de condições...
Empregos fora do lar?
És superior àqueles
que procuras imitar.
Tens o dom divino
de ser mãe
Em ti está presente a humanidade.

Mulher, não te deixes castrar.
Serás um animal somente de prazer
e às vezes nem mais isso.
Frígida, bloqueada, teu orgulho te faz calar.
Tumultuada, fingindo ser o que não és.
Roendo o teu osso negro da amargura.

Os homens
Em água e vinho se definem os homens.

Homem água. È aquele fácil e comunicativo.
Corrente, abordável, servidor e humano.
Aberto a um pedido, a um favor,
ajuda em hora difícil de um amigo, mesmo estranho.
Dá o que tem
- boa vontade constante, mesmo dinheiro, se o tem.
Não espera restituição nem recompensa.

É como água corrente e ofertante,
encontradiça nos descampados de uma viagem.
Despoluída, límpida e mansa.
Serve a animais e vegetais.
Vai levada a engenhos domésticos em regueiras,
represas e açudes.
Aproveitada, não diminui seu valor, nem cobra
preço.
Conspurcada seja, se alimpa pela graça de Deus
que assim a fez, servindo sempre
e à sua semelhança fez certos homens que
encontramos na vida
- os Bons da Terra - Mansos de Coração.
Água pura da humanidade.

Há também, lado-a-lado, o homem vinho.
Fechado nos seus valores inegáveis e nobreza
reconhecida.
Arrolhado seu espírito de conteúdo excelente em
todos os sentidos.
Resguardados seus méritos indiscutíveis.
Oferecido em pequenos cálices de cristal a amigos
e visitantes excelsos, privilegiados.

Não abordável, nem fácil sua confiança.
Correto. Lacrado.
Tem lugar marcado na sociedade humana.
Rigoroso.
Não se deixa conduzir - conduz.
Não improvisa - estuda, comprova.
Não aceita que o golpeiam,
defende-se antecipadamente.
Metódico, estudioso, ciente.

Há de permeio o homem vinagre,
uma réstia deles,
mas com esses não vamos perder espaço.
Há lugar na vida para todos.
Em qual dos grupos se julga situado você, leitor
amigo?


Vintém de Cobre
(Freudiana)

Eu vestia um antigo mandrião
de uma saia velha de minha bisavó.
Eu vestia um timão feio
de pedaços, de restos de baeta.
Vintém de cobre:
ainda o vejo
ainda o sinto
ainda o tenho
na mão fechada.
Vintém de cobre:
dinheiro antigo.
Moeda escura,
recolhida, desusada.
Feia, triste, pesada.
Corenta. Vintém. Derréis.
Dinheiro curto, escasso.
Parco. Parcimonioso
de gente pobre,
da minha terra,
da minha casa,
da minha infância.
Vintém de cobre:
Economia. Poupança.
A casa pobre.
Mandrião de saias velhas.
Timão de restos de baeta.
Colchas de retalhos desbotados.
Panos grosseiros, encardidos, remendados.
Vida sedentária.
Velhos preconceitos.
Orgulho e grandeza do passado.
Pé-de-meia sempre vazio.
E o sonho de ajuntar.
Melhorar de vida, prosperar,
num esforço inútil e tardio.
Corenta, vintém, derréis...
Eu ajuntando.
Mudando de caixinha, mudando de lugar,
Diziam, caçoando, as meninas da escola:
"- Muda de lugar que ele aumenta..."
Eu acreditava.
Guardava cinquinho a cinquinho
na esperança irrealizada
de inteirar quinhentos réis.
Fui criança do tempo do cinquinho,
do tempo do vintém.
Do antigo mandrião
de saias velhas da vovó.
De cobertas de retalho,
de panos grosseiros encardidos,
remendados.
De velhos preconceitos
- orgulho e grandeza do passado.
Opulência. Posição social.
Sesmarias. Escravatura.
Caixas de lavrado.
Parentes emproados.
Brigadeiros. Comendadores,
visitando a Corte,
recebidos no Paço.
Decadência...
Tempos anacrônicos, superados.
fui menina do tempo do vintém.
Do timão de restos de baeta.
Fiquei sempre no tempo do cinquinho.
No tempo dos adágios que os velhos
sentenciavam
enfáticos e solenes:
"- Quem nasce pra derréis não chega a vintém."
Pessimismo recalcando
aquele que pensava evoluir.
"Vintém poupado, vintém ganhado."
Estatuto econômico. Mote gravado
no corpo de algumas emissões.
"Na pataca da miséria o diabo tem sempre um vintém."
Isto se dizia, quando moça pobre se perdia.
"Quem compra o extraordinário
vê-se obrigado a vender o necessário."
Doía... impressionava.
Era a Sabedoria que falava.
E a gente sentia até uma lagrimazinha de remorso
no canto do olho.
E se via mesmo de trouxinha na cabeça,
andando de déu em déu,
perseguida dos credores.
A casinha penhorada.
Os trenzinhos dados á praça.
Tudo irrecuperado, perdido,
porque tinha comprado o extraordinário:
um vestido de chita cor-de-rosa
pintadinho de azul.
O tempo foi passando, foi levando:
minha bisavó, meu avô, minha mãe, minhas irmãs.
A velha casa.
Os velhos preconceitos
de cor, de classe, de família.
O tempo, velho tempo que passou,
nivelou muros e monturos.
Remarcou dentro de mim
a menina magricela, amarela,
inassimilada,
do tempo do cinquinho.
Eu tinha um timão de restos de baeta.
Eu tinha um mandrião de uma sai velha
de minha bisavó.
Vintém de cobre:
ainda o vejo
ainda o sinto
ainda o tenho
na mão fechada.
Moeda triste,
escura, pesada,
da minha infância,
da casa pobre.






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